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30/08/2013

ora essa!

abri a porta: era o medo de te perder. convidei-o a entrar, ofereci-lhe um chá, tirei-lhe os sapatos. fez-se em casa. quando ficou chato, pedi que se retirasse, mas assim que fechei a porta, um carro me atropelou. eram as juras de amor vazias.

leave it outside II

open the window
close your eye
let the wind
blow your mind

26/08/2013

tão bom quando

cada gota de suco de cada gomo da laranja gritando em um belíssimo coro: sim, acredite! e o chá quente debaixo do sol quente dizendo: sim, é a vida batendo na porta. já tivera essa sensação medonha antes. saiu para almoçar e nunca mais voltou. fechou os olhos. não havia nenhuma pedra no caminho, desculpe, carlos, não foi dessa vez... ou talvez fosse exatamente o sinal que sim, seria daquela vez! era! é! vai ser! quiçá?

15/08/2013

journal BXVII

de concreto só a fome. 10 reais de fome. de concreto só o arroz e o feijão. de concreto só as batatas que vem da terra. graças a deus o arroz e o feijão me lembram que a vida é mais! graças a deus as batatas não me deixam esquecer quem eu sou! vida longa ao morango que vira suco, molha as tripas e me grita meus desejos lá de dentro para eu não deixar de ouvi-los. vida longa às ervilhas que me ensinam o que é delicadeza. parem o mundo que eu quero descer! eu me demito! eu renuncio a mediocridade! eu renuncio a cegueira e a mudez. não quero nem o pó! minto, recolherei sim meus pedaços, obrigada.

08/08/2013

journal FXXIV

penso no desregramento, busco meu perdão, mas a uva sussurra no meu ouvido: ...  desejo  ...  é sierva maria que está ao meu lado. cavo a fruta com o dente verde. goza a gota de veneno, goza a língua, cada vez mais molhada. penetra lentamente, fura a carne, desmancha a boca. carlos estaria orgulhoso. 

foi o vento trazendo flores queimadas em delírio, esse vento que leva ao esquecimento, que sopra em direção ao mar, que me trouxe de volta do mergulho profano. mas era o afogamento nas idéias que me faltava. escrevê-las é a minha redenção.

sonhei que nadava com minha mãe em um rio de crocodilos, que dentro do saco de comida se instalavam milhares de casulos de vermes gordos, que pintava flores em tela e corpo. éramos amantes perfeitos. os óculos se quebravam em um abraço, e os olhos abriam de saudade.

caminhei pela ilha deserta em busca de uma praia perdida. um coelho branco me mostrou o caminho. encontrei um pedaço d'água. lavei meus pés do pecado, mas a videira vingava no meu coração, tinha sede. molhei o corpo até a barra do vestido, depois sentei-me em uma pedra para secar: o sal conservaria as idéias. deixei que o mesmo vento que vencia as borboletas me levasse de volta para casa.

estava meio assim, mas enchi de graça com a praça vermelha. praça do sol deveria ser seu nome. enquanto a pedra ardia, a água era azul cor de olho, as mulheres tinham o corpo livre, e os palhaços beijavam mãos vazias. lugares lindos transformam terças feiras em sábados. foram tantos cheiros... porque tantos cheiros? viajei com cleópatras e angélicas. o amor me acompanhou, venceu fronteiras agarrando-se na janela de um trem.

o terço pendia do pescoço da mulher de gordos seios. era a fé que penetrava nos recônditos da carne. mesma carne essa que sonhava o vitrinista ao vestir o manequim. mesma carne essa que envenenava meu dente.

a subversão trouxe a menina vestida de céu. eu poderia passar horas contando as estrelas de seu corpo. cheirava a lavanda e a papel. voltou, abriu o livro, abriu o olho: a cidade que lhe falta não existe. é feita de saudade, tem cheiro de chuva e cor de tempo. está dentro dela. é uma quimera.