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14/12/2011

18/11/2011

yeux d'enfant

o fresco da sombra
e o azul do céu
o cheiro da água
e o não ver da luz
o barulho do vento
e o gosto sóbrio
das ameixas

01/11/2011

28/10/2011

waking up?

hoje fui ter com os passarinhos.
falei pra eles o que eu me falo todos os dias...
andei descalça na grama,
senti a leveza desse mundo pesado.
fiquei doente.
a solução?
não me deixar sozinha comigo mesma por muito tempo!
cortei uma mecha de cabelo,
comprei um sapato,
passei um batom.
tive um sonho ridiculamente bom.
mas era só um sonho...
então eu acabei com uma garrafa de cachaça!
agora só me restam três...

23/10/2011

o jantar

ligou o fogo
cortou alho e cebola
separou os temperos
escolheu o vinho

naquela noite serviria em grande estilo!
o prato principal: seu coração.

20/10/2011

enquanto o tempo ri da minha cara

tenho medo do escuro
pois é no escuro que a gente vê
o escuro é o eu por dentro
é no escuro que o corpo arde

tenho medo do silêncio
pois é no silêncio que a gente ouve
o silêncio é o som por dentro
é no silêncio que o corpo vibra

mandaram eu me abrir pro mundo
passarinho sem gaiola

olhei-me no espelho
pra ter certeza de que ainda estava lá

hoje é dia de abrir a janela
fechar os olhos
e deixar o vento molhar

hoje é dia de sujar as mãos
café e grafite
e o papel e as ideias

hoje é dia de chover por dentro
de lembrar e depois de esquecer

30/09/2011

caravana da ilusão

o macaco adestrado
obedencendo à coleira
a malabarista
que também era equilibrista e contorcionista
en jonglant avec son propre coeur
e o palhaço, o que é?

as pessoas aplaudiram eufóricas, como se suas vidas fossem muito diferentes daquele espetáculo patético.

28/09/2011

as pombas gostam do sol da manhã

esse amor que todo mundo quer e finge que acredita
de filme, de novela, de livro da jane austen
pics! or didn't happen
quem foi que inventou?
e ainda convenceu as outras pessoas de que era bom e possível?
anos de perdeção de tempo. e ainda.

vou engravatar meu coração.
lhe dar uma pasta
e um crachá.


e no final do post, mandar a gramática ver se eu estou ali na esquina.

diabetes

coraçãozinho de açúcar
vou fazer uma carreirinha
e cheirar o meu amor

coraçãozinho de açúcar
desmanchou no copo d'água
agora é só gostinho doce

24/09/2011

haters gonna hate

tudo aquilo que eu quero e que você não é, versus tudo aquilo que eu não sou e que você quer ser.
what the hell?! vomits her mind.
tudo aquilo que eu quero ser, e que eu posso, e não sou.
do querer mais sem querer querendo mesmo sem poder.
sem medo dos ajustes do ser.
i can take it to the next level ba-by.
seguir a si mesmo. promise i'll be kind, but i won't stop.
a festa estando dentro de si. como se nada, e nada falta.
a idade lhe caindo bem.
keep on dancin'. but i don't feel like dancin', no sir, no dancin' today.
se encontrar e se dar um perdido:
- olha, fica aí que eu já volto. só vou ali comprar cigarros.
- mas você não fuma!
- espera que eu já volto!
found out i was losing my mind
como fugir se sou eu que me espero?
- é só deixar a outra pra trás. vai com a que foi!
is the music to blame?
la rage qui monte le coeur et les yeux e vira ira, possessão do estômago virar do avesso, e o coração parar de bater, e os ouvidos não escutarem mais. de la tête aux pieds, ton corps ne te répond plus: só ele.
if you feel it, let it happen, i'm not alone.
da lhama quero só uma gota. quem sabe um quarto de dietilamida do ácido lisérgico.
fico com o som bem alto - i'm on the right track baby - direto nos ouvidos. tudo virando uma grande bola de nada num grande buraco negro mental chamado universo.
at this point i gotta choose, nothing to lose.

talvez um pouco de leveza... but i don't really care about,
i-i-i wanna go-o-o all the wa-ay-ay... wo-oh-oh!

30/08/2011

leave it outside

open the window
watch the day
pass by
fall in love
don't let the rain
inside

close your eyes
feel the wind
oh,
don't you mind,
there's no end
without a start

22/08/2011

o gozo

a água correu seu corpo por dentro e por fora
a lágrima correu seu corpo por dentro e por fora
até virar tempestade
embaçar
escurecer
até não saber mais onde é o que


tu caches une tempête, il m'a dit
sim, ela aprendeu a chover por dentro

17/08/2011

coming back?

olhar pra dentro e ver o feio, acordar o monstro. monstro desses sem nome, adormecido, esquecido nas entranhas, e que agora urra de ira. urra de dor de quem dormiu a vida inteira, de dor de quem tem fome, de dor de quem descobre que está vivo. ó monstro, tem piedade desse humilde corpo que te serviu de abrigo, que te aninhou no escuro enquanto o mundo corria lá fora. monstro, essa luz que te cega é passageira, são teus olhos sensíveis que doem. é teu estômago vazio que dói. são tuas pernas que tem cãibra. e isso que arde, é o ar seco entrando em teus pulmões, rachando teus lábios. monstro, escuta teu coração que bate sem pedir nada em troca. teu cérebro que faz tu, monstro que és, seres. eu estou aqui, do lado de fora, e só agora te descubro. então descobre a mim também, porque depois de te saber, não sei mais o que é a beleza e o amor e a gratidão e a paz. agora que você acordou, aprende a visão e a audição. me vê, me escuta, me descobre esse mundo que eu já esqueci, me ensina o que eu desaprendi. quem sabe a gente não faz as pazes, eu monstra embalada em sonhos ninados, e tu, novo eu encantado em novo mundo.

13/08/2011

pra salvar a alma

Uma Ira - Clarice Lispector

- "Esta" - se disse o homem ajoelhado como antes de ir para a guerra - "esta é a minha prece de possesso. Estou conhecendo o inferno da paixão. Não sei que nome dar ao que me toma, ou ao que estou com voracidade tomando, senão o de paixão. O que é isso que é tão violento que me faz pedir clemência a mim mesmo? É a vontade de destruir, como se para este momento de destruir eu tivesse nascido. Momento que virá ou não, a minha escolha depende de eu poder ou não me ouvir. Deus ouve, mas eu me ouvirei? A força de destruição ainda se contém um instante em mim. Não poso destruir a ninguém ou nada, pois a piedade me é tão forte como a ira; então eu quero destruir a mim, que sou a fonte dessa paixão. Não quero pedir a Deus que ele me aplaque, amo tanto a Deus que tenho medo de tocar nele com o meu pedido, meu pedido queima, minha própria prece é perigosa de tão ardente, e poderia destruir a mim e a imagem de Deus, que ainda quero salvar em mim. No entanto só a Ele eu poderia pedir que pusesse a mão sobre mim e arriscasse queimar a Dele. Não me atendas porque meu pedido é tão violento que me atemoriza. Mas a quem pedir, neste rápido instante de trégua, se já afastei os homens? Afastei os homens, fui fechando as doçuras de minha natureza a cada golpe que recebi, e as doçuras negadas foram se enegrecendo como nuvens simples que vão se fechando em escuridão, e eu abaixo a cabeça à tempestade. Como seria a ira divina, se esta minha me deixa cego de força total? Se esta cólera só destruísse a mim. Mas tenho que proteger os outros - os outros tem sido a fonte de minha esperança. Que faço para não usar esta onipotência que me toma? o que me direi eu? Senão a verdade, senão a verdade. Só outra coisa eu conheci tão total e cega e forte como esta minha vontade de me espojar na violência: a doçura da compaixão. Só isto ainda posso tentar por no outro prato da balança - pois no primeiro prato está o sangue e o ódio ao sangue e o riso ao sangue que dói. Que estou querendo? Quero que a cada uma de minhas dores corresponda hoje e agora um ato de cólera.

"Mas eu sei o que foram as minhas dores. A cólera, é fácil expô-la. Mas a dor, esta me envergonhava. Porque minha dor vem de que não saí feliz de meus outros pecados mortais. Minha violência - que é em carne viva e só quer como pasto a carne viva - esta violência vem de que outras violências pecadoras que se pareciam tanto com um direito meu... No começo elas se pareciam tanto com minhas maiores suavidades. Eu tinha nascido simplesmente e também simplesmente quis ir tomando para mim o que queria. E a cada vez que não podia, a cada vez que era proibido, a cada vez que negavam, eu sorria e pensava que era um manso sorriso de resignação. Mas era a dor que se mascarava em bondade. Eu sabia que era dor errada diante de Deus, e, pior, diante de mim, quem quer que eu seja. Cada vez que meus pecados não venciam, eu sofria, mas sem me sentir com direito de sofrer, e tinha que esconder não apenas a dor, mas sobretudo o que causara a dor. O que estava sendo pisado em mim? na minha verdade de outrora, que estava sendo pisado em mim? Os pecados mortais.

"Os pecados mortais chamavam em mim por mais vida, e clamavam com vergonha, os pecados mortais em mim pediam o direito de viver. Minha gula pelo mundo: eu quis comer o mundo, e a fome com que nasci pelo leite, essa fome quis se estender pelo mundo, e o mundo não se queria comível. Ele se queria comível, sim, mas para isso exigia que eu fosse comê-lo com a humanidade com que ele se dava. Mas a fome violenta é exigente e orgulhosa, e quando se vai com orgulho e exigência o mundo se transmuta em duro aos dentes e à alma. O mundo só se dá para os simples, e eu fui comê-lo com o meu poder e já com esta cólera que hoje me resume. E quando o pão se virou em pedra e ouro aos meus dentes, eu fingi por orgulho que não doía, eu pensava que fingir força era o caminho nobre de um homem e o caminho da própria força. Eu pensava que a força é o material de que o mundo é feito, e era com o mesmo material que eu iria a ele. E depois foi quando o amor entrou pelo mundo e me tomou: e isso já não era a fome pequena, era a fome ampliada. Era a grande alegria de viver - e eu pensava que esta, sim é livre. Mas como foi que transformei, sem nem sentir, a alegria de viver na grande luxúria de estar vivo? No entanto, no começo era apenas bom e não era pecado. Era um amor pelo mundo quando o céu e a terra são de madrugada, e os olhos ainda sabem ser tenros. Mas eis que minha natureza de repente me assassinava, e já não era uma doçura de amor pelo mundo, era uma avidez de luxúria pelo mundo. E o mundo de novo se retraiu, e a isso chamei de traição. A luxúria de estar vivo me espantava na minha insônia, sem eu entender que a noite do mundo e a noite do viver são tão doces que até se dorme, meu Deus. E a água, na minha luxúria de viver, a água se derramava pelos dedos antes de chegar à boca. E eu amava o outro ser com a luxúria de quem quer salvar e ser salvo pela alegria. Eu não sabia que só o meio-termo não é pecado mortal, eu tinha vergonha do meio-termo. Os pecados são mortais não porque Deus mata, mas porque eu morro deles. Eu é que não pude arcar com os pecados mortais. O que não consegui com eles, é isso o que hoje me violenta e a que respondo com violência. Os meus pobres meios canhestros não me conseguiram nem terra nem céu, e a fúria me toma. Ah, mas se por um instante eu entender que a fúria é contra os meus erros e não contra os dos outros, então esta cólera se transformará nas minhas mãos em flores, em flores, em coisas leves, em amor. Eu ainda não sei controlar meu ódio, mas já sei que meu ódio é um amor irrealizado, meu ódio é uma vida ainda nunca vivida. Pois vivi tudo - menos a vida. E é isso o que não perdoo em mim, e como não suporto não me perdoar, então não perdoo aos outros. A este ponto cheguei: como não consegui a vida, quero matá-la. A minha cólera - que é ela senão reivindicação? -  a minha cólera, eu sei, eu tenho que saber neste minuto raro de escolha, a minha cólera é o reverso de meu amor; se eu quiser escolher finalmente me entregar sem orgulho à doçura do mundo, então chamarei minha ira de amor. Tanto temi jurar-me para sempre com essa primeira palavra que mal ouso pronunciar (amor), que fugi para a violência e para os olhos ensanguentados da paixão. Tudo, tudo por medo de me prostrar aos Teus pés e aos pés anônimos do "outro" que sempre Te representou. Que rei sou eu, que não se curva? Tenho que escolher entre a quebra do orgulho e o amor-correnteza da ignorância e da doçura. A minha verdade antiga ainda me serve? Deus proibiu os sete pecados não por exigência de perfeição, mas apenas por piedade de nós, de mim que, como os outros, também tento não ser Dele e tento não ser dos outros, e eu sei que os outros são Ele. Neste instante tenho que escolher entre amar ou ter ódio. Sei que amar é mais lento, e a urgência me consome. Cobre minha fúria com o Teu amor, já que também eu sei que minha ira é apenas não amar, minha ira é arcar com a intolerável responsabilidade de não ser uma erva. Sou uma erva que se sente onipotente e se assusta. Tira de mim a falsa onipotência destruidora, não deixa que a ferida que abriram em mim signifique ferida aberta por Ti, faz com que neste instante de escolha eu entenda que aquele que fere está no mesmo pecado que eu: no orgulho que leva à ira, e portanto ele fere assim como estou querendo ferir só porque não acredita, só porque não confia, só porque se sente um rei espoliado; ajuda aos que sofrem de ira porque eles estão apenas precisando se entregar a Ti. Mas como Tua grandeza me é incompreensível, faz com que Tu te apresentes a mim sob uma forma que eu entenda: sob a forma do pai, da mãe, do amigo, do irmão, da amante, do filho. Ira, transforma-te em mim em perdão, já que és os sofrimento de não amar."

10/08/2011

não mata, só dói

era essa a diferença: ele dormia, eu não. e depois? ele me pergunta. a noite preta lá fora. preta de não ver nada. só cor. dentro e fora de mim. fora da janela também. depois a gente fica triste, respondo. escrevo uma poesia, dessas que falam tudo sem dizer nada. mais um pro caderninho.
no final, é pra casa que a gente volta.

09/08/2011

addicted

sentir no braço, nas pernas, no meio do estômago, aquela sede. sede não na boca, na carne. um ardor leve, interno, discreto, mas que o fundo sabe que é precisão, vontade. vontade... vontade,  vontade, vontade, aquela vontade VonTade VonTaDe VoNTaDE VONTADE VONTADE VONTADEVONTADEVONTADEAQUELA VONTADE LOUCA DE BEBER UMA COCA COLA, DE COMER UM CHOCOLATE, DE GRITAR, DE SENTIR SEU CHEIRO, DE ESTAR AO SEU LADO.

27/07/2011

choses du coeur

essa paz que não se sabe d'onde vem nem pronde vai. é amor ou não mais amor? é silêncio? é noite? pasmaceira corpo sono tepidez, coisalma parada. faltânimo. e esse querer ser outra coisa que não sei se sou. procura-se-me. procura-se-me essa coisamor. coisa coração é coisa indomada.

11/07/2011

da fraqueza da carne

pense nas franjas da tua bolsa, no azul da tua água, nas flores do teu lenço e todo mal passará. a indecência do tempo há de se colocar atrás dos olhos, onde não se pode ver.

03/07/2011

ébria de amor

queria uma canção pra falar da união e da beleza, e compartilhar com os amigos a experiência maravilhosa de hoje. na falta da rima, divido as imagens que me embriagaram nessa noite fria de domingo. assim, jogadas em uma cesta, colha a que quiser: andorinhas sobrevoando o altar. fim de tarde. tecidos brancos, translúcidos, dançando ao vento. bolas de vidro. flores brancas e azuis. margaridas, hortênsias, rosas. caixotes, bancos, molduras, gavetas, espelhos. corações de açúcar. velas, garrafas, champanhe. música e amigos queridos à beira do lago. pérolas, trança e renda, tudo tão lindo... quero um especial, imenso e verdadeiro, desses que doem de tão. desses feitos pra sempre. eu acredito no amor, pronto falei.

27/06/2011

perder-se


pressão nos canos. da fresta sai gotinha. desgarramento sem hora. essa coisa chamada ansiedade. aquela outra coisa chamada música. e ainda a coisa picasso. tudo me desconcentrando. fui apresentada a um quadro. antigo meu, conhecido de outros tempos, depois mesmo de tê-lo dentro de mim. lembrava daqueles olhos. aquele vazio que me revirava as entranhas há anos. anos buscando a resposta da pergunta que não foi feita. vi o vazio olhando pra mim em carne, o mesmo vazio de picasso em tinta. que beleza um quadro vivo. que beleza! ia escrever sobre os surtos, sobre a lágrima, sobre a gotinha de sentimento desgarrada do ser de dentro, sobre a fome, sobre a desconcentração. mas a beleza tem um que de sobrevivência.

19/06/2011

sonhos não, fome de mundo

ouvi uma música que me dá vontade de ser amor puro. de me abrir em luz, rasgando pele, cegando mundo. vontade de seguir uma diagonal de déboulés infinitos no boulevard de chenonceau, de correr como maria antonieta pelos corredores de versailles ou ainda de mergulhar lentamente naquele rio gelado onde virginia woolf pensou uma última vez. quero ver todos os filmes, ler todos os livros, ouvir todas as músicas, escrever todos os poemas, morar em todas as cidades, ser todos os personagens, viver todas as histórias, ter todos os amantes, e um só grande amor pra sempre.

18/06/2011

la chute

noutro dia era o corpo que descolava, comalma doutro, duplicada, copiada, seguinte, repetindo ação. respirava duas vezes, o mesmo corpo duas vezes em paralelo consigo mesmo. espelho invertido, refletido de dentro. tocavam as mãos, duas vezes, duplicando também a mão parceira, fazendo-se um quarteto alucinante. queria dançar daquele jeito. com aquele corpo. aqueles corpos, todos, no escuro, só a respiração. respiração e saliva duas vezes cada vez. e agora, dondestá o duplo? terceira e quarta mão, outreu d'outrora. pedaço de esfera perdida. porquessa pressa? será que gruda de novo? fundição ao contrário. e o tempo? dobrou no corpo? evaporou com o espírito? não vi o tempo, dormi. e no ranço de toda essa sensibilidade corpórea, o medo simples de enlouquecer.

13/06/2011

dos bailinhos do coração

eu poderia fazer mil versinhos sobre os músicos
e suas mãos bailarinas
dançando pelas cordas de um violão
cada uma em um ritmo
cada dedo num som
compondo aquela coisa linda
chamada amor.

06/06/2011

eu mesma verme, corvo, serpente

e tu, criatura construída, monstro, quem és tu?
fui eu que te botei dentro de mim?
ou tu que rompeste a cútis do meu cérebro?
quem é o alimento dessa loucura?

04/06/2011

caber-se

quanta dor cabe num corpo? quanta dor? um só corpo. quanta dor! quanta fome cabe num estômago? quanta? e no coração? quanta fome no coração? quanto amor! é tanto, é muito, é demais. é quase nada. tudo no mesmo coração. tudo no mesmo estômago, no mesmo corpo, na mesma carne. quantas idéias erradas cabem num cérebro? um só cérebro e todas aquelas idéias erradas. várias idéias erradas, infinitas idéias erradas, infinitos amores certos e errados, infinitas fomes e dores, certas e erradas. quanto. muito! quanto... nada? em cada pedacinho, cada célulinha, um ponto de dor, de fome e de todas, muitas, sempre, infinitas e retornáveis outras coisas que esse corpo é capaz.

24/05/2011

das miragens

















eu quero escrever sobre as ilusões, sobre o estado de sonho. sobre o tempo perdido e o tempo encontrado.
fazer tempo. fazer amor. doce e difícil como bala que puxa.

22/05/2011

dessas coisas que não tem rima nem solução

vou escrever pra você. porque é você que está no meu coração. ainda que eu não saiba o que dizer, a vontade de falar me faz escrever pra você. porque é você que está no meu coração. queria a leveza dos seres nuvem. queria a paz dos seres silêncio. queria a segurança dos seres certeza. mas há loucura. o suficiente pra chover, gritar e não saber mais. te perdoo, te amo, te odeio, te perdoo. te amo? te odeio? te perdoo? uma musiquinha aqui pra disfarçar. uma comidinha ali pra esquecer. um texto assim pra consolar. vou escrever pra mim. porque você está no meu coração. ainda que eu não saiba o que dizer, a vontade de falar me faz escrever, pra mim. porque o coração é meu.

15/05/2011

meio de maio

descobrir tesouros guardados e esquecidos no fundo de um armário. #ameliepoulainfeelings. ter um fim de tarde digníssimo com as amigas. chorar as mágoas, destilar o veneno, sofrer o amor. ler poesia e horóscopo, beber vinho, champanhe, coca-cola, comer pipoca e brigadeiro, ser linda, sempre! e na noite errante, errar nômade, bater de porta em porta até acertar a casa certa. voltar naquele limiar do dia, quando ainda é noite e não mais. se sentir jovem e velha. dormir com uma vista de marie antoinette pintada por van gogh: um lago cinza azulado, emoldurado de árvores negras e um horizonte roxo acinzentado pingado de pontos amarelos, logo acima faixas de amarelo gema, lilás, magenta, verde menta pastel dissolvendo num azul cor de lago. uma nuvenzinha cinza e baça no alto, assim, meio se desmanchando... e em um movimento, no tempo de uma frase, nuvens cor de espumante se comprimindo até virarem uma grande massa rosé cortando o céu em faixa. uma música fim de festa sujando o silêncio da aurora e uns passarinhos arriscando timidamente anunciar o início do fim da semana.

11/05/2011

era dos descobrimentos

quero um barquinho azul pra navegar na imensidão

nos teus olhos de mar
no teu coração de mar
no meu coração de água mole.

05/05/2011

derrame cerebral

a chuva entrou no meu quarto pela janela do meu corpo. a gotinha correu o vidro como uma estrela cadente. fiz um pedido. quanto mais eu dentro do mundo, mais mundo dentro de mim. vazamento do ser. pedi pra chorar lá fora e não dentro de mim, pra verter no coração dos outros, não no meu. pedi pra ser aquilo que sempre quis. pra parar de ouvir aquela música, pra que ela parasse de falar comigo, pra que meu cérebro voltasse a si. quis me embriagar de pol rémy e vomitar poesia. poesia tripenta, dessas guardadas, revirando o estômago na ressaca. maldita insônia lúcida, maldito corpo cansado. a chuva entrou no meu corpo pela janela do meu quarto. a gotinha correu o vidro brilhando com pressa. tremelicando, deixando rastro de lesma.

26/04/2011

procura-se poema

moribundo, sonâmbulo
perdido na noite
entre tantos outros
esquecidos antes do sono
fugido das entranhas
escondido de mim

procura-se poema
paga-se recompensa

18/04/2011

do piano e da respiração

a cada oitava você me perde uma nota. a cada tempo o olho abre, o olho fecha. e cansa, e mente, e esquece.

a lua me espia da janela. me vê, me lê, me constrange, me paquera, me seduz. nua lua.

a música vai tocando. a voz ecoando. no oco da cabeça, como se uma banda inteira ensaiasse perdida dentro de mim.

a loucura mata, o tempo mata, o amor morre.

a cada oitava eu dou um passo. pra frente ou pra trás?

das escolhas feitas, só nos resta viver.

nada será igual, nunca mais.

nós seremos sempre sozinhos

e ainda assim...

17/04/2011

flor de carnaval

o corpo não estava.
os olhos não olhavam.
por onde será que ela sentia?
era isso a droga.
a rosa no ombro,
o movimento automático.
o sorriso simpático,
as mãos no bolso,
e a purpurina
morrendo de solidão
no meio do deserto
omoplata.

07/04/2011

e eu aqui, sentada nessa montanha russa

aquela ansiedade. aquele medo de morrer. aquela certeza de que isso não pode estar certo. o mundo dos altos e baixos. loopings sem fim. perc'o centro. pressão na cabeça. grito. grito. grito. o tempo suspenso naqueles trilhos que passam, tão rápido! grito mais. o coração pra saltar dos olhos. nada parece real. grito ainda. sem voz. coração ainda. tão rápido! pressão ainda. pra que? por que? aaaaaaaarrrrrrgggghhhhhhhh!!!! rio desesperadamente.

02/04/2011

da esperança renovada

essas idas e vindas da vida... que cara de menina que essa menina tem! ela sonha com o mundo... posso ver na sua loucura. soltou suas asas e agora, só os parafusos no chão. faz sorrir meus olhos mergulhados em graça. faz subir como as bolhas para tomar fôlego. a cortina dança para a janela que esquece da paisagem. o piano dorme ao fundo, embalado em silêncio. os colares tilinteiam na madeira e o sol desnuda o vidro em vultos de cor. os pássaros? ah, que amor de pássaros... andorinhas de fraque e cartola se enroscando em fitas amarelas. oitenta centavos o metro em algodão. já posso ver a ponta que desfia... próxima vez fico com o cetim. romantismo barato!

27/03/2011

no mormaço do esquecimento

será que o tempo vai apagar nossas lembranças?
melhor se fosse a loucura... ou até o vento!

abro a gaveta do criado mudo
que fica num canto escuro,
no meio do vazio
do fundo do meu crânio.
e guardo tudo lá.

tranco com chave.
mas no mormaço do esquecimento,
do poro evapora
o perfume da saudade.

17/03/2011

13/03/2011

uma ultima volta na praia

tudo aquilo que não foi dito
toda escolha não feita
todo constrangimento
amor, raiva, tristeza, saudade
tudo aquilo que não resume
concentrado, explodindo
no silêncio de um olhar

04/03/2011

da incompletude

esses amores não amados
esses não amores tão esperados
eu sei
eu sou
tantas certezas de nada...

eu queria que o teu corpo invadisse o meu como uma onda e que todo aquele inominável me vomitasse prum admirável mundo novo onde meus dedos correriam as páginas de cada um rescrevendo as histórias da minha maneira

eu queria falar da incompletude das coisas e que todo aquele inominável me engolisse num grande vácuo sonoro onde meus dedos correriam aquelas frases obedecendo cada uma da melhor maneira

mas uma aula de ballet me contrariou
e eu não sei o que fazer com tanto sentimento

voltei a acreditar

aqueles tempos tão esquecidos
aqueles tempos nunca vividos
eu quero
eu tenho
e tudo se desmancha assim...

23/02/2011

fui amar e já volto

observar o mundo e ser outra coisa. essa coisa bailarina. é quando vem à tona meu cisne negro. eu só queria amar e ser amada. mas nessa vida, quem espera por sapatos de defunto morre descalço.

11/02/2011

para ver estrelas

nesse meu coração cabe o mundo
esse mundinho do jeitinho que é
cabe um sol também
porque sem sol o mundo não gira
e uma lua...
inspirando os namorados
vamos por umas estrelas!
para ter o que recitar
quem sabe uns planetas?
só pra enfeitar
quero cometas e galáxias
e outra dimensão!
quero tudo que tenho direito
nesse meu coração

e depois,
brincar de deus num poeminha para as estrelas

31/01/2011

uma rima pobre para um azul profundo

tem o azul que cobre o céu
tem o azul que forra o mar
mas é no azul dos teus olhos
que eu quero sonhar.

23/01/2011

a minha casa mora em mim

essa noite sonhei com você. não sei se foi bom ou ruim, mas acordei com saudade. fico buscando o amor assim, na beira da estrada...  o asfalto com pressa, o vento nas ideias, o sol na lembrança. quando a carona chegar, me leve pra casa. só não sou mais de lugar nenhum.

16/01/2011

dos românticos

gosto mais de paris à noite. quando o ar é fresco e nebuloso. com todas aquelas lâmpadas sombreando a cidade.  quando as pessoas são vultos negros dobrando a esquina. eu poderia ser um poeta boêmio do século xix. eu e mais dois amigos, andando torto pelas ruas, cantando odes à cidade luz, cheios de ópio, brandy e vinho correndo no lugar do sangue. nos inspirando amar e odiar.

11/01/2011

pleonasmo

todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas         e eu       essas palavras todas essas palavras todas         no meio      essas palavras todas essas palavras todas      tentando     essas palavras todas essas palavras todas  me reencontrar  essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras todas essas palavras....