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28/08/2022

entrei no balé para aprender a dançar com meus demônios ou journal BXVIII

entrar em contato com a dor: estava na dúvida se ia encará-la ou distraí-la com uma série fofa engraçada. num ponto de virada peguei o computador e cá estou, muitos anos depois, de frente para a página em branco. a tal página em branco... que equivale ao silêncio, ao vazio... àquilo que nego e fujo com tanta força que meu corpo até colapsa. talvez a música da série fofa engraçada de ontem tenha feito algum efeito de mobilização para encarar o medo. outras músicas - e algumas venho ouvindo obsessivamente nos últimos dias - também me fortalecem de um jeito estranho: entro em contato com meus sonhos. dói, mas de um jeito não triste. vira e mexe falo delas em alguns parágrafos guardados. esbarrei em um agora há pouco: "ouvindo música voltei em lembranças felizes e tristes que me mergulharam em uma melancolia arrastada. meu corpo guarda tantas coisas que sinto que vou explodir. tristezas profundas, amores, desejos, histórias, vontades," o trecho, escrito em 2019, acabava com vírgula, esperando o que seria escrito em seguida. 3 anos depois acho que a melhor escolha é deixá-lo terminar com a vírgula mesmo, afinal, os finais abertos são os melhores justamente porque nos suspendem. e os sonhos só existem no flutuo. pés no chão são da ordem da terra, da raiz, do palpável, que também é bom, mas muitas vezes duro e dolorido. na montanha russa dos sentimentos desses dias senti muita saudade de paris, talvez por isso eu tenha voltado ao journal. sinto saudade da imagem que construí de mim mesma. lá foi um tempo em que entrei muito em contato com o vazio, com o silêncio, o medo e a dor, mas de algum jeito consegui segurar tudo com a mão. moldei uma bola e ela me acompanhou durante meses. esqueci muita coisa, mas moldar a bola com a mão me deu um poder do qual lembro e tenho saudades. venho tentando reencontrar esse poder. medo e saudade, inclusive, se parecem em algum nível sensorial. música, música, me salva! me faz olhar pra dentro e ver minha força. vozes internas - e externas - me dizem que os dedos nas letras são parte do caminho, mas às vezes sinto que ainda estou andando com as pernas amarradas. hoje um fio arrebentou, expurgada pelas letras posso voltar à série fofa engraçada.

07/02/2022

 coração parado não move poesia

poema tonto ou recado para um desamor (2021)

o mundo lá fora gira,
gira até eu cair.
mas no meu sonho sua mão me segura,
me acolhe
e tira os cabelos dos meus olhos
para que eu possa ver em frente:

é o vazio do futuro,
que de tão vazio,
está cheio de possibilidades

já faz um tempo que a noite não tem estrelas.
o silêncio da casa indica que tudo está em seu lugar
mas em algum canto da mente escura brilha uma luz:
é um sonho.

poeminha quarentenado (2020)

pedaços de vazio
fragmentos de nulo
cacos de nada

sentir o peso do tempo,
lidar com o buraco dentro.