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19/11/2013

25/10/2013

gota a gota, eu me livrarei de você

cada vez que eu chorar
cada lágrima fria
será uma parte de você
saindo de dentro de mim

gota a gota
eu me livrarei de você

16/10/2013

FNX II

a nuvem era uma pepita de ouro. o pássaro, no fundo do olho, anunciou: morrer era tomar um banho quente no escuro. mas a musica me dizia que tudo daria certo, que o coração, há muito deslembrado de si, aprenderia de novo a dizer eu te amo.

10/10/2013

dos mágicos

arrancam meu coração com palavras
e desaparecem com ele no mundo

dos bruxos

olhou no fundo dos meus olhos e disse: "você irá viver um tórrido caso de amor". assim que proferiu estas palavras, pisou em um rato e partiu.

07/10/2013

dançando a hula para os demônios

é me arrastando pela terra que eu reencontrarei minha delicadeza, porque é da boca do verme que brota a vida. com o rosto colado ao chão, e o peso do mundo nas costas, descobrirei que o brilho do muco das minhocas reflete as estrelas do céu, e que os poros das pedras suam gotas de sonho. descobrirei que orvalho é espelho de borboleta, e que o excremento dos seres mais asquerosos é feito de açúcar. 

entre figos, maçãs, e unicórnios, destruirei minhas lembranças de vidro. cortando pele, do sangue farei um chá paramim. um chá paramar. a luz que entrar pela janela revelará fadas azuis na poeira que se respira, e o amor terá o som de um estalo, do beijo de duas pálpebras.

depois, quando eu me levantar, dançarei a hula para os demônios, no escuro, até o sol raiar.

16/09/2013

journal BXIV

hoje você parte para terras distantes, do outro lado do oceano. com alguma sorte a minha saudade morre afogada antes de te alcançar.

10/09/2013

o ciclo da areia

hoje meu avô vai para o mar. justo hoje, o dia em que eu saí da terra, meu avô volta a fundir-se com ela. deixa corpo para virar água, vento e areia. justo hoje, o dia em que me distancio dessa matéria primordial, dando um passo em direção à ela.

06/09/2013

é setembro

você me ensinou a dizer eu te amo para me dizer adeus
mas os ipês continuarão florescendo e o meu coração batendo
as pedras, as nuvens, os pássaros, o vento e a água
tudo continua sem você.
as horas virarão dias e os dias virarão noites
e assim o tempo e eu.
você me ensinou a dizer eu te amo para me dizer adeus
mas adeus só se diz uma vez, e o amor, agora que é meu,
eu direi para sempre.

a dor que eu sinto é a de um aborto

quem foi que as plantou por aí? não, são ervas daninhas! se espalham por toda parte sozinhas, sem convite. e eu agora com essas flores dentro do meu coração? se arranco, levarão da minha terra, deixarão buracos por toda parte, se deixo brotarem firmes, absorverão minha energia até o fim. prendam-me! excomunguem-me! que hoje é dia de jardinagem, tenho as mãos sujas de sangue. semente a semente, lágrima a lágrima.

pleonasmo II

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04/09/2013

journal BXVIII

o dia amanheceu sépia. acho que foi a saudade, ou talvez meu sonho que se esqueceu de acordar.

30/08/2013

ora essa!

abri a porta: era o medo de te perder. convidei-o a entrar, ofereci-lhe um chá, tirei-lhe os sapatos. fez-se em casa. quando ficou chato, pedi que se retirasse, mas assim que fechei a porta, um carro me atropelou. eram as juras de amor vazias.

leave it outside II

open the window
close your eye
let the wind
blow your mind

26/08/2013

tão bom quando

cada gota de suco de cada gomo da laranja gritando em um belíssimo coro: sim, acredite! e o chá quente debaixo do sol quente dizendo: sim, é a vida batendo na porta. já tivera essa sensação medonha antes. saiu para almoçar e nunca mais voltou. fechou os olhos. não havia nenhuma pedra no caminho, desculpe, carlos, não foi dessa vez... ou talvez fosse exatamente o sinal que sim, seria daquela vez! era! é! vai ser! quiçá?

15/08/2013

journal BXVII

de concreto só a fome. 10 reais de fome. de concreto só o arroz e o feijão. de concreto só as batatas que vem da terra. graças a deus o arroz e o feijão me lembram que a vida é mais! graças a deus as batatas não me deixam esquecer quem eu sou! vida longa ao morango que vira suco, molha as tripas e me grita meus desejos lá de dentro para eu não deixar de ouvi-los. vida longa às ervilhas que me ensinam o que é delicadeza. parem o mundo que eu quero descer! eu me demito! eu renuncio a mediocridade! eu renuncio a cegueira e a mudez. não quero nem o pó! minto, recolherei sim meus pedaços, obrigada.

08/08/2013

journal FXXIV

penso no desregramento, busco meu perdão, mas a uva sussurra no meu ouvido: ...  desejo  ...  é sierva maria que está ao meu lado. cavo a fruta com o dente verde. goza a gota de veneno, goza a língua, cada vez mais molhada. penetra lentamente, fura a carne, desmancha a boca. carlos estaria orgulhoso. 

foi o vento trazendo flores queimadas em delírio, esse vento que leva ao esquecimento, que sopra em direção ao mar, que me trouxe de volta do mergulho profano. mas era o afogamento nas idéias que me faltava. escrevê-las é a minha redenção.

sonhei que nadava com minha mãe em um rio de crocodilos, que dentro do saco de comida se instalavam milhares de casulos de vermes gordos, que pintava flores em tela e corpo. éramos amantes perfeitos. os óculos se quebravam em um abraço, e os olhos abriam de saudade.

caminhei pela ilha deserta em busca de uma praia perdida. um coelho branco me mostrou o caminho. encontrei um pedaço d'água. lavei meus pés do pecado, mas a videira vingava no meu coração, tinha sede. molhei o corpo até a barra do vestido, depois sentei-me em uma pedra para secar: o sal conservaria as idéias. deixei que o mesmo vento que vencia as borboletas me levasse de volta para casa.

estava meio assim, mas enchi de graça com a praça vermelha. praça do sol deveria ser seu nome. enquanto a pedra ardia, a água era azul cor de olho, as mulheres tinham o corpo livre, e os palhaços beijavam mãos vazias. lugares lindos transformam terças feiras em sábados. foram tantos cheiros... porque tantos cheiros? viajei com cleópatras e angélicas. o amor me acompanhou, venceu fronteiras agarrando-se na janela de um trem.

o terço pendia do pescoço da mulher de gordos seios. era a fé que penetrava nos recônditos da carne. mesma carne essa que sonhava o vitrinista ao vestir o manequim. mesma carne essa que envenenava meu dente.

a subversão trouxe a menina vestida de céu. eu poderia passar horas contando as estrelas de seu corpo. cheirava a lavanda e a papel. voltou, abriu o livro, abriu o olho: a cidade que lhe falta não existe. é feita de saudade, tem cheiro de chuva e cor de tempo. está dentro dela. é uma quimera.

13/06/2013

sim, nós venceremos o tempo

sim, nós venceremos o tempo. como duas nuvens que se encontram, entre raios e trovões, anunciando tempestade.

24/05/2013

pelo que você volta para casa?

meu caro,

domingo vou nascer com o dia. explodirei no céu, pois os fantasmas estão chegando. que sejam bem vindos! que venham, e tragam a catástrofe e a cura. por dentro tudo ainda parece o mesmo, mas a boca do oceano me diz que não. é natural ter medo, será meu último dia como criança, meu único momento sozinha. como é estranha a inocência... mas eu sei que mesmo com as mãos trêmulas... olhe o ar e veja que o tempo pára. que venham, e me deixem entrar. e depois de viver mágicas horas, a lua já baixa, sobreviverei a boa morte. só então, expirarei o primeiro sopro depois do coma. 

cuide-se, cuide-se, cuide-se. lembre-se de mim como um momento no seu dia. me mande um postal para que eu sinta a sua mão na minha, para que eu sinta saudade de repente

coração sopro, sol da manhã

a cortina balança com o vento da manhã
meu coração é um só

30/04/2013

journal BXVII

"estão na moda esses cabelos assim, curtinhos né?" comentou uma senhora com a outra dentro do elevador. "é, mas isso é pra gente assim, miudinha...". "é... pra gente novinha e bonitinha assim que nem ela!"

era para ser um elogio? meu espírito não conseguiu responder com graça. corroída pelos crachás, corredores e também cabelos daquele lugar, minha única vontade era gritar na cara daquelas mulheres e sair correndo, possuída por um demônio, até cair no meio da rua sem ar, e com alguma sorte, ser atropelada para desacordar daquele dia tão sem jeito.

15/04/2013

do processo

primeiro eu me encanto pela beleza, depois eu me apaixono pela história de amor que eu não vou viver.

25/03/2013

journal BXVI

ficou ali alguns minutos, esperando tomar coragem para sair do carro e enfrentar o dia. sabia que assim que abrisse a porta, o tempo e a vida a engoliriam. o dia acabaria em um piscar de olhos e não teria realizado nem a metade dos seus sonhos. sabia que no instante em que abrisse a porta, deixaria aquele silêncio quente com cheiro de plástico para trás, e daria de cara com a solidão que a tomava por dentro, que o radinho a fazia esquecer. não era uma escolha fácil. não era uma escolha.

aquecendo as mãos na xícara de chá

sinto que a última gota de qualquer coisa que havia no meu coração acaba de secar. finalmente o vazio virou nada. a flor de plástico não pulsa, não seiva, não saliva mais. viro os olhos para fora. a temporariedade da existência torna tudo ridículo: o bigode bem cortado, o pirão de peixe, o salto alto e o batom fúcsia. de concreto, só a fome. sete reais e cinquenta centavos de fome. de concreto, só o arroz e o feijão que brotam da terra, de onde tudo veio, para onde tudo vai. incansáveis, buscam consertar as coisas. agendas político ambientais, econômicas e sociais, como se houvesse luz no fim do túnel. é o que chamam de esperança por um futuro melhor, que ninguém aqui vai ver. e ainda põem a culpa em pandora. retiro a gordura da carne, sustentando a hipocrisia da boa alimentação, que ninguém sabe qual é. um dia é o tomate e o azeite, no outro, o ovo e o chocolate. disseram certo, somente a beleza salvará o mundo, mas a beleza está nos olhos de quem vê, e por aqui estão todos cegos com suas convicções de pedra, quando na verdade, tudo não passa de nuvem.

25/02/2013

das tintas que mancham

a noite chorou de saudade, molhando a rua e transformando o vidro da janela num céu cheio de estrelas. escrevi meu amor na palma da mão que era pra guardar na pele.

22/02/2013

journal BXV

sentia que minha força se esvaía pela ponta dos dedos. que eu deixaria o prato cair. era só um prato vazio, afinal. ele disse não. e eu já não conseguia mais espetar a rúcula com o garfo. qual era a chance daquela negativa? por que eu nunca previa a estatística da possibilidade? mastiguei uma gordura. era dia de feijoada. e agora, o arroz e o feijão que há pouco eram alimento, pareciam cocô. só a salada permanecia verde. talvez porque eu não conseguisse enfiar uma rúcula inteira na boca. talvez porque ela nunca fosse plenamente digerida. entrei em uma espécie de transe naquele lugar onde todos eram dentes e crachás. onde tudo era uma questão de plins, tecs e blás. toda sexta feira ele comia feijoada na barra. agora, toda sexta feira ele comeria feijoada em brasília. e eu também. pediu um petit gateau. gastronomia não era seu forte. comi a manga solitária que sobrava. junto com o feijão, a couve e a linguiça. tudo viraria cocô, afinal. agradeci mentalmente por mais uma história para contar. pedi licença e fui para a fila do chá de maçã. alguma coisa precisava me ajudar a digerir aquela rúcula.

20/02/2013

ainda me mata de saudade

sim, cada vez mais distante. cada vez mais sem cheiro, sem voz, sem rosto. vou te encontrando pelas esquinas, mas são os outros. vão roubando tua beleza, mascarando-se na ilusão feliz e cheia de medo de te ser. o vidro era feito de céu e o sol era a tua pele que me aquecia. é quando eu volto pra casa, quando tudo é fantasma, que eu lembro de você.

blue boat

esse barco vai ser sempre azul, porque azul é a cor da saudade

07/02/2013

29/01/2013

journal BXIV

terça feira, vinte e nove de janeiro de 1930, 12:50 | deixei meu coração na fila do bandejão com um músico judeu.

26/01/2013

love remembered

se ignorando e se sabendo, passaram um ao lado do outro. eles eram apenas mais uma história no caderno.

14/01/2013

journal BXIII

ela estava ali, sentada no meio daquelas pessoas. todas aquelas pessoas conversando barulhentas e ela. era como se estivesse à parte, como se visse tudo de outro lugar. será que já tinha se tornado uma delas? ela morria de medo disso. se vigiava o tempo todo para não assimilar os trejeitos, as roupas, os cabelos. ela morria de medo de se tornar uma daquelas pessoas porque sabia que quando isso acontecesse, o mundo a engoliria. mas do jeito que estava ali, roupinha listrada, jeitão de menino, ela ainda era uma criança cheia de sonhos. ainda era ela que tinha fome de mundo, e não o mundo dela. enquanto estivesse ali, à parte, ela ainda sentiria o gosto do arroz e do feijão. ela ainda saberia o cheiro da chuva e a cor da saudade.

journal FXVII

journal ontem, journal hoje, journal sempre


21/12/09
Ois people,

Aqui no RU da cité universitaire por vezes tem uns mendigos que almoçam. Não são esses mendigos bebados do metro, são uns velhos de muleta com sacolas, que vira e mexe estão por lá. Hoje me sentei ao lado de um deles, sabendo das possibilidades de uma puxada de conversa. Dito e feito. O sr já me desejava um bom apetite. Aqueles assuntos básicos, de onde eu era, o que eu fazia. Deu sua opinião sobre o cinema, disse que antigamente ia muito à cinemateca. Gostava de Buñuel. Disse que se ganhasse na loteria iria pro Brasil ver a copa do mundo. Neve na Espanha, o bom clima das Ilhas Canárias, contou sobre sua família, voltaram todos para a Espanha. E ele ficou. Sozinho. Quando apertei sua mão na despedida, estava de luvas. Me arrependi de não ter tirado antes para sentir a pele grossa e velha. Senti que meu aperto de mão enluvada deixava ele na mesma solidão que a de 30 minutos antes. Um toque sem tato.

A maioria dos doidos de Paris não passam de pessoas carentes de atenção. O frio e a cultura afastam os corpos e as almas umas das outras. Todo mundo aqui é carente em algum nível. Ninguém se abraça, ninguém se tem. Os mendigos são só mais alguns sozinhos no mundo. Talvez só um pouco a mais do que os outros. Uma vez eu estava no ônibus e sentou uma doida do meu lado. Alguma coisa em mim atrai os doidos, acho que é o cabelo. Eles olham pra mim e já vem pra perto conversar. Então, uma vez eu estava no ônibus e sentou uma doida do meu lado. Ela gritava coisas com um sotaque africano pesado. Não conseguia entender muito. Começou a falar comigo. E falava, e falava... falou de psicóticos, e de mais num sei o que, que eu só entendia quase nada, balançava a cabeça concordando sempre, sorria de vez em quando. Depois que ela teve seu minuto de atenção, começou a me agradecer de um jeito tão sincero, e até constrangedor, porque eu não entendia o que tinha feito por aquela mulher. Pegou na minha mão, beijou e agradeceu mais uma vez. As pessoas são muito sozinhas nesse mundo.

No RU daqui da cité também tem um passarinho. Um pardal. Ele ficava sempre olhando pra fora da janela piando triste. Piiiiuuuuu piiiiuuuu. Numa solidão! Ficava preocupada por ele. Achei ainda que ia morrer de depressão. Até que n'outro dia tinha mais um pardalzinho por lá. Me tranquilizei. O tempo passou, um deles engordou. Agora sentam os dois, cada um de um lado da janela, olhando pra fora e piando triste. Piiiiuuuuu piiiiiuuuu piiiiuuuuuu piiiiiuuuuuu.

Semana passada eu tinha ido muitas vezes sozinha ao cinema. O cinema é sempre um lugar problemático para os casais ou grupos de amigos, porque sempre sobram cadeiras sozinhas pingadas pela sala. As pessoas, no seu minuto fóbico, pulam uma a cada outra desconhecida. Assim, numa mesma fileira temos 3 cadeiras, uma em cada canto, separando as pessoas - tanto as já sentadas, como as que gostariam de se sentar. No final, a sala escura acolhe todos os solitários, e a tela viva faz esquecer que somos pingos de solitude, aqui e ali, e que a pessoa ao lado também está sozinha.

Nesse fim de semana não fui nenhuma vez ao cinema. Fiquei trabalhando, tentando escrever coisas que fizessem sentido, afundada em pilhas de papel, livros, etc... Quer dizer, como salvei esse email no rascunho para continuar escrevendo ao longo da semana, essa frase já está errada. Fui hoje no cinema ver Max and the Maximonsters. Um filme estranho, meio deprê, meio amedrontador, mas bonito ao mesmo tempo. Falava de um menino que se sentia sozinho. Agora também já estou de férias, ou melhor, fericas, até o dia 4, quando sigo algumas provas. A próxima pausa é em fevereiro. Aqui o ano escolar é picotado em fericas.

Essa semana também nevou. Era o que faltava para o natal. Só que no primeiro dia em que nevou eu estava 1 hora atrasada para um compromisso, então meu primeiro contato com a neve em 5 anos pode ser resumido no medo de escorregar e cair (porque eu corria loucamente) e no frio. Levei muita nevada na cara. Cheguei no compromisso sem conseguir nem falar. No final das contas deu tudo certo, cortei meu cabelo, fiz até penteado, e no final do mês chega um dinheirinho pelo correio. Não, papai noel não mudou de método, é que eu passei num casting mesmo, para a Schwarzkopf. Eu vinha tentando sem sucesso já fazia alguns meses, até que minha sorte deu uma virada e eu passei em 2 seguidos! Fotos no orkut.

Sexta teve festinha de aniversário de um amigo do Clement. Sentei na mesa com as mulheres. Depois de um tempo contando sobre minha vida (a única coisa que se faz em eventos sociais) fui tentar furar a rodinha dos meninos. Depois de um minuto a rodinha se desfez. Voltei para o grupo feminino, conformada, desta vez no sofá. O apartamento era um luxo. Preguei os olhos numa gravura. Reconheci o traço, mas não quis acreditar. Firmei o foco e lá estava o nome, inconfundível, Picasso.

Sábado teve festinha aqui em casa. Saquei minha super lista de contatos do celular. Contei 19 pessoas. Destas fazia sentido chamar umas 8. Nossa, uma super festinha! Só que 2 viajavam, 3 deram um bolo (ou como eles dizem por aqui - no melhor portucês, ou ainda franguês: "puseram o lapan". pra quem reclama a língua verdadeira e original, antigamente reconhecida como a dos nobres, a expressão vira "poser le lapin"), voi-là! No final é tudo bolo pra gente. Ainda assim, com meus 3 convidados resistentes, bebemos 2 garrafas de vinho (como os bons franceses que secam garrafas e garrafas em minutos), um gole para cada da boa e velha xiboca, que era presse povo conhecer a boa mistureba brasileira, e ainda um copinho de caipirinha*. Aí tivemos que parar por causa da hora e dos transportes. Descendo as escadas com a Moldaviana** convidada, ela me dá o prazer dizendo "Essa bebida que você me deu me deixou uuu!" Haha genial! A outra convidada era a vizinha brasileira, então não conta, e a terceira era uma francesa dorminhoca, que quase dormiu no sofá, mas estiquei a cama e, segundo ela mesma, "dormiu como um bebê". Acho que o saldo foi positivo.

Hoje estou aqui, passando frio e fome. Mamis viajou e a casa está vazia. De pessoas e de comida. Estou vivendo a base de madeleines (bolinhos), bananas e suco de laranja. Ainda bem que ela chega amanhã!

Essa semana, como a neve já anunciou, também é o natal! E como não é preciso ser nem mendigo nem passarinho para ser sozinho, aqui em casa vamos ter a ceia dos desmamados, ou ainda, a ceia dos despatriados. Uncle vem com Vitor John representar a família; Zé; Mamis; Eu; Aí tem a filha duma amiga da minha tia (que esse mundo ovico fez questão de me cruzar no caminho); E talvez um colega da aliança francesa (que esse mundo ovico também fez questão de me cruzar no caminho)... Todo mundo acolhido no natal dos abandonados. Minha contribuição para a ceia foi a farinha (da futura farofa) e o guaraná! Sim, em Paris também tem guaraná, o original do Brasil, na lojinha "Coisas do Brasil" mais próxima da sua casa! Quanto ao ano novo, o plano é que os amigos do Clement me acolham. Era eu a desmamada, abandonada, despatriada, sem amigos, nem programação, contando minha miséria para as meninas do sofá, quando elas se comoveram, e fizeram questão de me incluir nos planos da virada parisiense (que pelo jeito não é a melhor do mundo, por incrível que pareça).

Bom, então, pra não me prolongar muito, já me prolongando um pouco mais, ficam nessas linhas os meus votos natalinos para todos vocês, meus queridos amigos! UM LINDO NATAL, CHEIO DE LUZINHAS, PRESENTES, COMIDA BOA, CALOR, AMIGOS E FAMÍLIA POR PERTO! Para o ano novo, como a saída do journal agora é um mistério, ficam meus votos de MUITA SAUDE, ALEGRIAS E REALIZAÇÕES EM 2010! E agora vem a frase final de declaração que é pra terminar o email no clima da partilha dos sentimentos, no clima de comunhão, porque a verdade é que aqui ninguém é passarinho, nem mendigo, nem sozinho nesse mundo nevento.

Um grande beijo cheio de saudades pra todos! Amo muito vocês! E se não antes, até o ano que vem!!!

Ps*: pai, eu não sou alcoolatra.
Ps**: quem mais não sabia da existência da Moldávia? _o/

02/01/2013

journal RI

de pintos, peitos e periquitas a praia é abundante. crianças roliças e mulheres roliçantes rolam na areia. e nessas passagens simbólicas algumas coisas ficaram, como o menino que ainda puxava um carrinho bip bip pela calçada, ou o ruivinho que corria na areia, a sunga quase tão vermelha quanto seus cabelos. o resto passou. os bancos de praça, os travestis, os chinelos, os cachorros e o baby wipe. muita coisa passou pela pele, pouca coisa virou pinta. os vickings, piratas e ciganos, por exemplo, sempre mancham. paguei 10 reais por poesia barata. o suco acabou em um gole. o passo tinha cheiro de tinta, cheiro de francia. a revolução eram borboletas de papel sujando as ruas. o centro estava tranquilo e nem era domingo. me perdi em uma travessa cheia de histórias de amor. comecei tímida, incerta. depois fui me empolgando. poesia boa não tem preço. as fachadas da memória foram restauradas, tudo por dentro mesmo, porque aqui a coisa medo ainda ronda. olhei para omar e cansei do amor. fui embora sem dar tchau. desisti da minha cama e quase engasguei com a uva da formatura. acho que lido melhor com dinossauros do que com baratas.