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07/01/2014

das mil cartas de amor do tempo

meu caro senhor,

a certeza dentro de mim é tão grande que nem toda turbulência do mundo me dirá que estou errada. os abutres contornando o céu prenunciam tempestade. sim, a que nós criamos e que agora nos consome. a que eu criei e que agora me consome. talvez seja isso afinal. eu não vi o raio que nos, que me partiu. todo dia eu penso nas mil cartas de amor que te escreveria, que te escrevo diariamente. toda noite eu durmo esperando raiar o dia em que não te verei mais nos meus sonhos. 

todo dia é dia do teu nome, é dia do teu rosto. te dedico cada hora, cada minuto, e se por um acaso me deslembro, é o tempo que você precisa para ser mais um pouco dentro de mim.

mas algumas musicas me desenterram de você, te desenterram de mim. me vejo cravando os dedos no coração, enchendo as unhas de terra e te puxando lá de dentro, rasgando pele, me salvando. e é durante essas notas que eu retomo meus minutos, minhas horas, minha memória, uma a uma, gota a gota.

e ainda que cada linha, cada corda arrebentada, cada letra molhada, sejam para você, e serão até eu esquecer, eu sei que é o tempo quem conta as histórias. então sento na pedra, os pés dentro d'água, e espero o vento levar sua sombra. eu sei que o sol já não queima, então sento na pedra, os pés dentro d'água, e espero o vento levar sua sombra.

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