pressão nos canos. da fresta sai gotinha. desgarramento sem hora. essa coisa chamada ansiedade. aquela outra coisa chamada música. e ainda a coisa picasso. tudo me desconcentrando. fui apresentada a um quadro. antigo meu, conhecido de outros tempos, depois mesmo de tê-lo dentro de mim. lembrava daqueles olhos. aquele vazio que me revirava as entranhas há anos. anos buscando a resposta da pergunta que não foi feita. vi o vazio olhando pra mim em carne, o mesmo vazio de picasso em tinta. que beleza um quadro vivo. que beleza! ia escrever sobre os surtos, sobre a lágrima, sobre a gotinha de sentimento desgarrada do ser de dentro, sobre a fome, sobre a desconcentração. mas a beleza tem um que de sobrevivência.
27/06/2011
19/06/2011
sonhos não, fome de mundo
ouvi uma música que me dá vontade de ser amor puro. de me abrir em luz, rasgando pele, cegando mundo. vontade de seguir uma diagonal de déboulés infinitos no boulevard de chenonceau, de correr como maria antonieta pelos corredores de versailles ou ainda de mergulhar lentamente naquele rio gelado onde virginia woolf pensou uma última vez. quero ver todos os filmes, ler todos os livros, ouvir todas as músicas, escrever todos os poemas, morar em todas as cidades, ser todos os personagens, viver todas as histórias, ter todos os amantes, e um só grande amor pra sempre.
18/06/2011
la chute
noutro dia era o corpo que descolava, comalma doutro, duplicada, copiada, seguinte, repetindo ação. respirava duas vezes, o mesmo corpo duas vezes em paralelo consigo mesmo. espelho invertido, refletido de dentro. tocavam as mãos, duas vezes, duplicando também a mão parceira, fazendo-se um quarteto alucinante. queria dançar daquele jeito. com aquele corpo. aqueles corpos, todos, no escuro, só a respiração. respiração e saliva duas vezes cada vez. e agora, dondestá o duplo? terceira e quarta mão, outreu d'outrora. pedaço de esfera perdida. porquessa pressa? será que gruda de novo? fundição ao contrário. e o tempo? dobrou no corpo? evaporou com o espírito? não vi o tempo, dormi. e no ranço de toda essa sensibilidade corpórea, o medo simples de enlouquecer.
13/06/2011
dos bailinhos do coração
eu poderia fazer mil versinhos sobre os músicos
e suas mãos bailarinas
dançando pelas cordas de um violão
cada uma em um ritmo
cada dedo num som
compondo aquela coisa linda
chamada amor.
06/06/2011
eu mesma verme, corvo, serpente
e tu, criatura construída, monstro, quem és tu?
fui eu que te botei dentro de mim?
ou tu que rompeste a cútis do meu cérebro?
quem é o alimento dessa loucura?
04/06/2011
caber-se
quanta dor cabe num corpo? quanta dor? um só corpo. quanta dor! quanta fome cabe num estômago? quanta? e no coração? quanta fome no coração? quanto amor! é tanto, é muito, é demais. é quase nada. tudo no mesmo coração. tudo no mesmo estômago, no mesmo corpo, na mesma carne. quantas idéias erradas cabem num cérebro? um só cérebro e todas aquelas idéias erradas. várias idéias erradas, infinitas idéias erradas, infinitos amores certos e errados, infinitas fomes e dores, certas e erradas. quanto. muito! quanto... nada? em cada pedacinho, cada célulinha, um ponto de dor, de fome e de todas, muitas, sempre, infinitas e retornáveis outras coisas que esse corpo é capaz.
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