a desmemória transforma tudo em descoberta
13/10/09
13/10/09
Ois todos!
Eu
estou sempre auto criticando esse semanário de viagem. E cada vez o
descubro um pouco mais. É um pouco estranho que eu ainda encontre novidades naquilo que é criado inteiramente
por mim, mais ça arrive. Essa semana descobri o lado assustador deste
email: me pego escrevendo novamente. E a última vez parece ainda que foi
ontem. Mas já faz uma semana! E toda vez é o mesmo susto. Mais uma
semana que passou. E outra! E mais outra! E já estou acabando a décima, e
até terminar de responder as respostinhas já estaremos na décima
primeira! Já consigo até me ver escrevendo a edição especial de natal.
Assustador.
A
edição especial nº 09 ano 09 rendeu respostas maravilhosas.
Em cada uma que recebi descobri timidamente as pessoas que me
leem. Descobri comentários a favor e contra certos estilos, sentimentos
diversos, poesias. Porque de certa forma, a mais descoberta aqui sou eu que venho contando todas as desaventuras que passo no lado de cá do
além mar. Dos outros, só sei o que me escrevem que, assim como eu nos
outros journais, são sempre relatos superficiais na medida do físico,
da ação. E dessa vez não. Foi uma experiência maravilhosa que eu amaria
repetir incessantemente, mas infelizmente, escrever daquela maneira
exige muito do espírito e receio que daqui pra frente terei cada vez menos força para tanto. Ainda que fosse interessante talvez,
assim, de vez em quando, dar voz ao estômago e não à cabeça. Sim, porque
não sei quem inventou que os sentimentos vem do coração. Tudo que
sinto de mais forte fica na altura do estômago e não, não estou
falando da fome. Ta certo que o estômago não é muito romântico, mas nós
já passamos dessa fase. Então volto um pouco para a mesmice, que é pra
ela não deixar de ser.
Hoje
começaram minhas aulas. Hoje foi o segundo dia na verdade. Terei aula
segunda de manhã (que eu perdi olhando errado o horário), terça de manhã e a noite, e quarta a tarde e a noite. Nenhum
período por inteiro, são aulas de 2 horas cada. As vezes acho que vai
dar tudo certo. As vezes me vejo panicando (segundo Karina), daquele
jeito. E pra escrever sobre o dia de hoje, nem sei se consigo, ainda to
meio biruta. Sei que durante uma hora eu passei um dos top 5 momentos
bizarros dessa viagem. Bom, vamos aos relatos superficiais na medida do
físico: estávamos lá, eu e Karina. Saídas quentes da aula de estética
onde acabávamos de receber um resumo oral de 3 livros sobre a questão do
ser ou não ser. Encarnou? Descemos prum café de máquina que a Karina
jogou na privada minutos depois. Nós não tínhamos o número da sala da
aula de francês (porque a inscrição foi feita pela internet e
esquecemos desse detalhe). Resumo da história até o ápice do drama:
ficamos rodando naquele labirinto chamado universidade, de porta em
porta, tentando descobrir um ser que nos indicasse o local certo para nos
dirigirmos. Dito e feito, a mocinha da secretaria apontou a sala. Entramos com a confiança de William Tell depois que acertou a maçã. Eu
já quase sentando na cadeira, ignorando os olhares curiosos (atenção
para os 40 minutos de atraso). A professora então pergunta "À que devo a
honra?" eu olho para Karina, Karina olha para mim, olhamos para a
professora, o sangue subindo no rosto e a voz engasgada "Aqui não é a aula de
francês estrangeiro?" "Não" - eu não poderia imaginar uma resposta mais
óbvia! Nos desculpamos engasgando cada vez mais, e a tortura continuou
"Vocês sabem aonde vocês estão indo?" "Er... bem... na verdade... não,
mas a gente se acha! Desculpe novamente". Risos. Fecha a porta atrás de
nós. Ambas se dobram ao meio, sem saber se riem ou se choram. Decidem pelos
dois. Daquele jeito que alguns de vocês já devem ter me visto. Aí a Karina já escondida
nas escadas e eu ainda no corredor borrando toda a maquiagem. Quando
eu olho pro lado, um rapaz assim, meio espantado (lógico), pergunta "Ça
va?" Aí é que eu desembestei a chorar (pior do que um 'tudo bem?' só um
'ça va?'. Só estando aqui pra saber a quantidade de significados que a
expressão 'ça va' abrange. Juro que era última coisa que eu queria ouvir naquela hora). E o coitado ainda não fazia idéia que eu sou da
política do Ouvido Amigo. Comecei a desabafar, assim, meio engasgada,
meio chorando, meio rindo, falando meio em português ainda porque nem
sabia mais quem eu era, muito menos onde eu estava. Ai que foi um Deus
nos acuda, e o fi tentando ajudar as duas descompensadas chorando sem saber o que fazer. No final das contas perguntei o nome dele.
Entendi que era Miguel. Não sei estava predisposta a ouvir um nome
divino a esse ponto, ou se era esse mesmo o nome dele. Mas anjo ou não,
ele foi um bom ombro durante 5 minutos. Depois a Karina disse que o viu passando/ignorando a gente. Acho que o assustamos um pouco com a
verborragia, ou melhor, a choradeira. Afe. Ainda tentamos descobrir via
biblioteca a tal da sala, mas a internet não estava funcionando.
Entendemos o recado, Sr. Destino. No final das contas os filmes estavam
certos e errados o tempo todo. Aquela cena da grande escola com 100
cadeiras onde um professor bem velho fica lá embaixo do auditório passando slides, e os alunos que trocam experiências e se
apresentam espontaneamente uns aos outros no final da aula enquanto guardam os livros nos
armários... Nada disso, tudo errado. Aquela cena do micão da sala
errada, não podia ter sido pior. Enfim, nada melhor prum
típico primeiro dia de aula.
E
em estilo brainstorm, o resumão: saí da abstinência cinematográfica mais uma vez. Estou tendo uma verdadeira filmorragia. As vezes me
pego conversando com as coisas, as vezes com certas partes do meu corpo. Nada me respondeu ainda, acho que isso é um bom sinal. E faltou o
comentário sobre os insetos europeus: ainda não vi formiga, nem barata;
já cruzei com umas lagartinhas (eca), alguns mosquitos (pfff), poucas
moscas (afe); estamos na época dos mosquitões de pernas imensas, assim,
de uns 5 centimetros (eecaa que noojooo), e das joaninhas aos montes
(argh); também tem uns outros coisinhos que eu não sei bem o que são,
branquinhos e amarelinhos, melhor não insistir. Em alguns dias serei
enterrada sob o morro dos papéis uivantes que se forma na minha mesa.
Quanto mais eu me desfaço, mais panfletos e revistas eu tenho.
Dessa
vez a mesmice pode ficar metida, quer dizer, contida, porque além deu
inverter a ordem, hoje a diquinha de moda é cinematográfica: September
Issue - o documentário sobre a editora da revista Vogue. Bem divertido.
Bom, fico por aqui, ainda biruta e com ler no pulso direito.
Bises
Bises
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