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06/06/2012

despe-me

aquele vestido... era como se uma outra dela estivesse ali na frente do espelho, olhando-a, lembrando-a de tudo que já vivera com aquela roupa. pena que já não conseguia mais dizer se eram bons ou ruins, os momentos... era a peça que ela mesma se pregava. quem? a moça do vestido, ou a do espelho? e não eram as duas a mesma? sim e não. a ingrata criatura estava lá. a ingrata criatura sempre está. estava no vestido, no caminho de volta pra casa, na comida e na água que se bebe, no cheiro sem memória. e quando a memória já não tem mais cheiro, a ingrata criatura também surge. lá do fundo das tramas do tecido, do fundo do esquecer. sai rasgando tudo que encontra pela frente. e lhe toma por inteiro. e lhe veste. quando se olha no espelho, ela é toda ela.

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